02 novembro 2009

O Sentido da Morte



O Sentido da Morte
Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

Cada túmulo é um monumento que perpetua neste mundo, as interrogações profundas do coração: por que viver? Por que morrer? Será que a dor dessa separação é o sentido último da existência humana?

Nos dias atuais, cada vez se conhece mais os segredos da psique, embora aumente a ausência, em nosso íntimo, da serenidade e da paz. Cresce a competência da medicina. Todavia tomam dimensões assustadoras os problemas da velhice desamparada pela própria família. O amor conjugal procurou emancipar-se: recusa a tutela da sociedade, da moral e, em consequência, decresce o número de matrimônios felizes. Busca-se avidamente a harmonia onde não pode ser obtida. Essa frustração no amor parece ser uma chaga que nos aflige.

A sociedade moderna torna-se um corpo doente, assistida por remédios sem número e aparelhagens sofisticadas. Ao curar-se um mal surgem novas mazelas.

Aspira-se à vida onde ela não se encontra, pois a ânsia dos prazeres que entorpecem as consciências nos conduz à morte. Tal explicação deriva do fato de o homem possuir uma dimensão transcendental. Desprezando-a, jamais se realizará plenamente.

O Dia de Finados coloca diante de nós, no íntimo de cada um essa angústia: a interrogação sobre o Além. Um verdadeiro grito de alerta que favorece a salvação e soluciona dificuldades pela garantia de uma perspectiva perceptível pelos sentidos.

No Antigo Testamento não temos uma resposta cabal. A luta contra os cultos pagãos, que transformavam os defuntos em verdadeiros deuses, exigia medidas profiláticas em favor do povo eleito: “Só Eu sou o Senhor” (Lv 19,28; 20, 6.27). “Vós sois os filhos do Senhor, vosso Deus; por isso, não presteis culto aos mortos” (Dt 14,1). Assim, inculcavam que estes não são divindades, mas, em suas cinzas, seres como nós.

Nos textos sagrados antes de Cristo, a morte conservava sua força como penalidade pela desobediência dos primeiros pais.

Os portais da Eternidade permaneciam impenetráveis. Geme o grande profeta Isaías (38, 10-12): “É necessário, pois, que eu me vá no apogeu de minha vida. Serei encerrado por detrás das portas da habitação dos mortos (...). Não verei mais o Senhor na terra dos viventes, não verei mais a luz (...). Arrancam as estacas de meu abrigo, arrebentam-no como uma tenda de pastores”.

Somente com o fulgor da Ressurreição foram vencidas as trevas que envolviam a condição do homem após a morte. O acontecimento revelou o poder sobre o que destruía o corpo. Por isso, São Paulo, convertido, proclama que o Salvador resgatou o véu misterioso da morte, perdoou o pecado, apagou a culpa, reconciliou a criatura com o Criador. Assim, destruída a causa dos males, desapareceu o castigo na dimensão de permanência, restando apenas algo de transitório. Ainda devemos passar pelo túmulo, como o Mestre; mas o que se lhe segue deixou de ter o estigma da tristeza, para se transformar em esperança.

Essa profunda metamorfose surge de um fato: “Eu vivo e vós vivereis” (Jo 14,19). Sua vitória é nosso triunfo. No meio das dores dos que choram seus entes queridos, repitamos com o Apóstolo: “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? A morte foi tragada pela vida” (1Cor 15,55).

Desse ensinamento de fé cristã brotam valiosas consequências.

A primeira delas é a esperança que envolve a saudade ao visitar os túmulos de nossos entes queridos. A luz da vela acesa nos recorda o fulgor de Cristo que ressuscitou e o fará a todos que são batizados na sua morte. Eles o acompanham, vitoriosos, na sobrevivência eterna. A firme convicção da Palavra de Deus é o sólido fundamento dessa confiança.

A outra é a admoestação que todo cemitério nos sugere. As sepulturas nos falam de nosso amanhã: lá estaremos também. Entretanto, só “quem não ama permanece na morte” (Jo 3,14). Assim, a Ressurreição do Senhor produzirá em nós seus frutos na medida em que na vida praticamos as obras do Redentor: a justiça, a bondade e o perdão. Toda uma existência seguindo o Evangelho nos abre uma maior possibilidade de participação na glória eterna. As renúncias são pedidas, mas os sacrifícios dessas exigências desaparecem diante da perspectiva futura.

A última reflexão no Dia de Finados é relativa à nossa maior aproximação com os que nos precederam na glória eterna. Eles usufruem da alegria do Paraíso. Então, estaremos mais unidos aos nossos entes queridos à medida que nossos corações permanecem junto ao Senhor. A oração é o momento de nos encontrarmos diante da face de Deus e com aqueles que hoje já participam da vitória de Cristo.

Assim o Dia de Finados continua envolto em saudade provocada pela ausência física dos que amamos e já se foram. E, no entanto, é também uma ocasião de louvores: “Graças sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória eterna, por nosso Senhor Jesus Cristo” (1Cor 15,27).

Somente os que creem na Palavra de Deus recebem a graça transformadora. Ela converte a dor na esperança e substitui por uma presença o vazio deixado pelos que nos antecederam na casa do Pai.

DIA DE SAUDADES, MAS TAMBÉM DE BOAS LEMBRANÇAS




DIA DE SAUDADE, MAS TAMBÉM DE BOAS LEMBRANÇAS

Para muitas pessoas, o dia de finados é uma data triste, que deveria ser excluída do calendário. Muitos, nesse dia, ficam deprimidos ao recordarem os seus entes queridos que partiram desta vida. Alguns isolam-se, outros viajam para esconder suas mágoas...

Porém, poucos conseguem ver que o dia de finados deve ser um momento de reflexão acerca de como anda a nossa conversão. Deve ser um dia de "fecho para balanço", daqueles em que se para tudo, totalizam-se os lucros e os prejuízos e promete-se e permite-se vida nova.

Não podemos esquecer-nos de que um dia estaremos também partindo desta vida. Não podemos ignorar isso pois, como um ladrão na noite, como diz o Evangelho, esse dia chegará. Felizes aqueles que foram "apanhados" em oração, com os Sacramentos em dia.

Muitas pessoas lamentam a "perda" de um pai ou uma mãe e esquecem-se de que eles fizeram apenas uma viagem distante e que estão esperando por nós. Partiram quando o Pai, transbordando de saudades, gritou: - Filho(a), há quanto tempo estás aí! Volta para casa! - e assim foi feito.

Muitos, porém, desses que lamentam a perda de um ente querido, ao invés de serem verdadeiramente santos para, um dia, voltarem a encontrar-se com seus parentes e amigos que partiram desta vida, tomam um outro rumo, ora distanciando-se de Deus e da Sua Igreja ora vivendo uma fé morna, como diz Jesus.

Não percebem que, ao fazer isso, desperdiçam a única oportunidade que têm de rever essas pessoas. É uma pena...

Neste dia 2 de Novembro, que possamos verdadeiramente rever os nossos sonhos, a nossa vida, a nossa fé e, pela glória de Deus, mudar de rumo, se necessário for.

Paz e Bem!

©Evangelizo.org 2001-2009

A CELEBRAÇÃO DE FINADOS


A VIDA ETERNA QUE CRISTO NOS PROMETE COMEÇA AGORA !

Estamos no Mês de novembro. Nesse mês, de modo especial no dia de finados, relembramos nossos familiares, amigos que partiram de nosso convívio. Para uns esse ato de recordar é tranqüilo, sereno; para outros reabre às vezes feridas, renasce o pranto e prolonga a dor porque ainda não conseguiu aceitar a separação daquele ou daquela que partiu do convívio cotidiano. De um ou de outro modo o ato de recordar reacende a saudade, mas também a dor.

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A visita que fazemos ao cemitério, as preces que elevamos a Deus, as velas que acendemos, as flores que oferecemos aos nossos entes queridos são um expressão do nosso amor e carinho a eles. Mas não apenas isso. É também expressão de nossa confiança em aqueles que não estão mais juntos de nós fisicamente, que não caminham conosco em nosso dia a dia, definitivamente, não morreram. Essa garantia é o próprio Jesus quem nos da: “aquele que crê em mim, mesmo que morra viverá eternamente” (Jo 11,25). Para os que acreditam a vida não se restringe no aqui e agora que vivemos na história, porém a vida se revela em algo muito maior. A vida apreciada no amor é, na fé, convivência eterna em comunhão com Deus. Essa é a esperança cristã que nos conduz a um olhar confiante e alegre a essa comunhão de amor que há de vir.

Todavia, a vida eterna, a salvação não é para ser buscada apenas depois da morte. Essa busca deve começar aqui e agora. Trata-se antes de tudo de acreditar no chamado que Deus faz a nós em Cristo. Por meio do seu filho Deus nos põe em comunhão com Ele. Mas essa é uma verdade de fé. Assim como somente pela fé em Cristo e sob a ação do Espírito podemos conhecer quem é Deus, do mesmo modo é também pela fé que podemos ter acesso a essa verdade, ou seja, à vida glorificada.

Mas cuidado para não entender errado o que estamos falando. Quando digo que é preciso crer trata-se de acolher aquele que é o Senhor da vida em nossa vida e aceitar que sua Palavra seja “lâmpada para os nossos pés” no dia a dia. Trata-se de deixar que ela – a Palavra - transforme nossa vida a tal ponto que possamos também hoje amar como o Cristo amou e ama, perdoar, solidarizar, profetizar, enfim, servir e fazer o bem como ele o fez. Dessa maneira antecipamos desde já a convivência plena no amor de Deus.

O Cristo glorioso e ressuscitado não é outro senão aquele chorou diante de seu amigo Lázaro, que teve compaixão da multidão faminta, que caminhou em busca da ovelha perdida, que carregou a cruz até o calvário e lá foi crucificado e morto. Com isso quero dizer que seremos o que somos agora. Será eternizado o que agora vivemos e fazemos. Na verdade a promessa e garantia da vida eterna supõe um modo de viver. É um viver segundo Cristo ou como diz Paulo, “não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Tudo o que expressamos é preciso ser visto em relação a outro ato de recordação e celebração que antecede o dia de finados: a Festa de todos os Santos. Louvamos e bendizemos a Deus por todos os santos. Mas quem são os santos? São nossos irmãos na fé que numa determinada viveram a fé em Cristo buscando fazer a vontade do Pai. É verdade que o número dos santos não são somente aqueles que a Igreja já os declarou. Vai muito alem. Ser santo é um chamado dirigido a todos os homens e mulheres que ontem, hoje e amanhã peregrinam por esta terra (1 Cor 1,2). Nesse sentido podemos dizer que todos os nossos irmãos, amigos, familiares que não estão mais conosco já experimentam a alegria de ser santo como nosso Deus é santo em sua ressurreição. Essa mesma alegria somos nós convidados a experimentá-la em nosso caminhar cotidiano rumo à pátria definitiva. Isso implica fazermos o que já expusemos: viver em Cristo abraçado às tarefas do Reino de Deus. Para ser mais claro, viver a caridade com os irmãos, sobretudo, o pobre, o enfermo, o faminto, pois este rosto sofrido é o rosto mesmo de Cristo.

Que essa singela reflexão seja oportuna a você leitor (a) no sentido de cultivar não um sentido de desespero diante da morte ou ainda que lhe ajude a aceitá-la com um olhar sereno. De certa forma a morte é nossa parceira. Sem a morte e experiência da cruz não se experimentará a vida glorificada. Ao mesmo tempo ajude a examinar quais ações são prioritários em sua vida e se elas estão relacionadas às escolhas d’Aquele que nos chama a viver na santidade e nos assegura uma Vida plena, eterna e feliz. De uma coisa estou certo aquele que faz a vontade de Deus não ficará sem recompensa: o cêntuplo nesta vida e a vida eterna.

(fonte: www.dioceseprocopense.org.br/site/artigos/pealcides_finados.doc - autor: Pe. Alcides Andreatta . Mestrando em Teologia Pastoral . Belo Horizonte - MG)