14 outubro 2010

Da Carta a todos os fiéis, de São Francisco de Assis

 

(Opuscula, edit. Quarachi1949,87-94)

(Séc.XIII)

Devemos ser simples, humildes e puros

O Pai Altíssimo anunciou a vinda do céu do tão digno, tão santo e glorioso Verbo do Pai,

através de seu santo, Gabriel, à santa e gloriosa Virgem Maria, em cujo seio recebeu a

verdadeira carne de nossa humanidade e fragilidade. Ele quis, no entanto, sendo

incomparavelmente mais rico, escolher a pobreza junto com a sua santíssima mãe. Nas vésperas de sua paixão, celebrou a Páscoa com os discípulos. Depois, orou ao Pai dizendo: Pai, se for possível, afaste-se de mim este cálice (Mt 26,39).

Pôs, contudo, sua vontade na vontade do Pai. E a vontade do Pai era que seu Filho bendito e glorioso, dado a nós e nascido para nós, se oferecesse em sacrifício e vítima no altar da cruz, pelo seu próprio sangue. Sacrifício não para si, por quem tudo foi feito, mas por nossos pecados, deixando-nos o exemplo para lhe seguirmos as pegadas (cf. 1Pd 2,21). E quer que todos nos salvemos por ele e o acolhamos com coração puro e corpo casto.

Ó como são felizes e benditos aqueles que amam o Senhor e fazem o que o mesmo Senhor diz no evangelho: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e ao próximo como a ti mesmo! (Lc 10,27). Amemos, portanto, a Deus e adoremo-lo com coração puro e mente pura porque, acima de tudo, disto está ele à procura e diz: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade (Jo 4,23). É necessário que todos que o adoram, o adorem no espírito da verdade. E dia e noite elevemos para ele louvores e orações, dizendo: Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9); porque é preciso orar sempre e não desfalecer (cf. Lc 18,1).

Além disto, produzamos dignos frutos de penitência (cf. Mt 3,8). E amemos os próximos como a nós mesmos. Tenhamos caridade e humildade e façamos esmolas, já que estas lavam as almas das nódoas dos pecados. Os homens perdem tudo o que deixam neste mundo. Levam consigo somente a paga da caridade e as esmolas que fizeram: delas receberão do Senhor o prêmio e a justa recompensa.

Não nos convém sermos sábios e prudentes segundo a carne, mas temos antes de ser simples, humildes e puros. Jamais desejemos ficar acima dos outros, mas prefiramos ser servos e submissos a toda criatura humana, por causa de Deus. Sobre todos os que assim agirem e perseverarem até o fim repousará o Espírito do Senhor e fará neles sua casa e mansão. Serão filhos do Pai celeste, pois fazem suas obras, e são esposos, irmãos e mães de nosso Senhor Jesus Cristo.

Imagem: A morte de São Francisco. — Évora, Portugal : Igreja de São Francisco. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Evora08.jpg acesso em 04 out. 2010.















"A DEVOÇÃO MARIANA DE SÃO MAXIMILIANO"

A vida é um dom de Deus e precisamos vivê-la como tal, pois, é para o encontro definitivo com o Senhor que estamos indo. Vivemos em meio ao Mistério da Criação como parte integrante de um Grande Plano de Amor que transcende o nosso entendimento; e para além do somos ou podemos, temos que cooperar de bom grado com esse Plano Divino a nosso favor. A Sagrada Escritura nos revela que somos “imagem e semelhança de Deus”, e certamente ainda não nos damos conta disso, dada à finitude que nos cerca e mesmo o que aparentamos ser.

São Maximiliano Maria Kolbe é um santo dos tempos atuais profundamente imbuído da vivência desse Plano Salvífico do Senhor para toda a humanidade. Desde a infância a “Mão do Senhor” já delineava o que haveria de ser esse filho e como daria o seu testemunho de sangue perante toda a criação. A experiência de fé polonesa passa, indubitavelmente, pelas mãos da Virgem Mãe, que além de Padroeira da Polônia e dos poloneses, é ainda padroeira de tantos outros países devotos que a ela recorrem para que interceda junto ao seu Filho, a fim de que sejamos prontamente atendidos em nossas necessidades e para que se cumpra em tudo a Santa Vontade de Deus em nossa vida.

Contam os biógrafos que o pequeno Raimundo Kolbe (nome de batismo de são Maximiliano) era de índole esperta e por isso mesmo um tanto travesso. Certa feita em uma de suas travessuras sua mãe, um pouco incomodada, o chamou a atenção dizendo-lhe: “Menino, o que será de sua vida?” Ao que, como de costume, o menino correu junto ao oratório em um dos cômodos de sua casa para rezar e perguntar em sua inocente oração à Virgem Imaculada o que seria de sua vida. Obteve como resposta a aparição da Santíssima Mãe do Senhor mostrando-lhe duas coroas, uma branca e outra vermelha - as mesmas cores da bandeira da Polônia, sua pátria amada e também as cores do Espírito Santo, doador de todos os dons - perguntando-lhe qual das duas queria para si. Ao que o pequeno infante, depois de breve hesitação, respondeu: quero as duas. E foi precisamente assim que se definiu sua vocação, ser totalmente consagrado a Deus na vida religiosa e ser mártir da caridade pela Imaculada em defesa da família e da salvação do maior número de almas possíveis.

Desse modo, como Davi e a própria Virgem Maria, o Espírito do Senhor apoderou-se também do menino Raimundo e fez dele um grande santo de alma devotada à Vontade de Deus por meio da Imaculada, a quem se entregou, como ainda todo o seu ministério. Seu lema era: “Ganhar o mundo inteiro para Cristo pela Imaculada”. Por isso, se refugiava no Imaculado Coração da Virgem Mãe e com o auxílio de suas preces procurou servir ao Reino de Deus difundindo-o em todo o mundo, fazendo jus ao lema que escolhera para sua vida. Movido por um incondicional amor a Maria, fundou o movimento de apostolado mariano “Milícia da Imaculada”. Trabalhou incansavelmente na confecção do Cavaleiro da Imaculada, pequena revista de evangelização mariana; fundou ainda jornais, rádio; e tencionava fundar também canais de televisão para difundir a devoção à Imaculada, a fim de levar a cabo todo o empreendimento evangelizador que Deus lhe confiara.

Destarte, no fim dos seus dias, recebeu das mãos da Beatíssima Mãe a segunda coroa que lhe destinara Deus, o martírio no campo de concentração nazista Auschwitz, tomando o lugar de um pai de família que estava para ser sacrificado no Bunker da fome, assumindo assim, até as últimas conseqüências, sua vocação mariana, o martírio do amor incondicional; a certeza do céu, a realização do Plano de Deus, por meio do Seu Filho Jesus Cristo, Fruto Bendito da Virgem Imaculada.

“Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”. (São Maximiliano Maria Kolbe – 1894-1941).

Paz e Bem!

Frei Fernando,OFMConv.