05 outubro 2009

Dom Eduardo, bispo

PALAVRA DO ACEBISPO
Evangélicos apoiam o Papa


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
A Encíclica “Caritas in Veritate” teve grande receptividade também nos meios evangélicos. Cinquenta e seis representantes evangélicos, em sua maioria dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, subscreveram um texto de adesão às orientações de Bento XVI. Levamos aos nossos leitores parte do texto, como segue: “Os recentes acontecimentos mundiais mostram-nos a importância de uma profunda reflexão cristã sobre a natureza e a finalidade da vida econômica, quer nas nossas sociedades, quer noutras partes do mundo. Portanto, como protestantes evangélicos aplaudimos a publicação da Encíclica “Caritas in Veritate” de Bento XVI. E

xortamos os nossos irmãos evangélicos do hemisfério norte a ler, confrontar-se e responder à “Caritas in Veritate” e à interpelação do apelo da caridade e da verdade na nossa vida de cidadãos, empresários, trabalhadores e, sobretudo, de seguidores de Cristo. Apreciamos o modo como a Encíclica considera o desenvolvimento econômico em termos de trajetória autêntica para a prosperidade humana. A Encíclica, na esteira da "Populorum Progressio" de Paulo VI, afirma que o desenvolvimento diz respeito à transformação tanto das pessoas como das instituições e das relações em seu interior e entre elas. Nós fazemos ressoar seu apelo por uma nova visão de desenvolvimento, que reconheça a dignidade da vida humana em sua plenitude e que inclua a preocupação pela vida desde a concepção até a morte natural, pela liberdade religiosa, pela diminuição da pobreza e pelo cuidado para com a criação.

A “Caritas in Veritate” propõe um modelo integral de desenvolvimento humano no contexto da globalização, com a explosão da interdependência planetária. Juntamente com a Encíclica, também nós afirmamos que a globalização se deve tornar um processo de integração centrado na pessoa e orientado para a comunidade...Na "Caritas in Veritate" encontramos uma análise das questões globais que rejeita a excessiva simplificação da polarização do livre mercado e das soluções ativas dos governos. Segundo ensina a Encíclica, podem ser vivi

das relações autenticamente humanas de amizade, de solidariedade e de reciprocidade inclusive dentro da atividade econômica e não só fora dela ou depois dela. A vida econômica não é amoral ou autônoma. As instituições econômicas, e os próprios mercados, devem ser caracterizados por relações internas de solidariedade e de confiança.

O lucro, embora seja um meio necessário na vida econômica, não pode ser a finalidade prioritária de um progresso econômico verdadeiramente humano... Exortamos os evangélicos a considerar o convite do Papa Bento XVI a rever quem deve ser incluído entre os portadores de interesses sociais e qual o significado moral do investimento. Teríamos desejado uma crítica ainda mais severa na Encíclica, da elevação do dinheiro à idolatria e do conseqüente atual domínio dos mercados financeiros sobre outros elementos da economia global. Apoiamos a afirmação segundo a qual uma economia de caridade exige espaço para milhares de comunidades humanas e de instituições, não só para o Estado e o mercado, mas também para as famílias e as muitas organizações da sociedade civil.

São sobretudo os recursos internos das comunidades como associações de vizinhança, conselhos municipais, sindicatos, o pequeno comércio, que facilitam o desenvolvimento dos talentos e dos recursos locais... O desafio de humanizar ou civilizar a globalização não significa necessariamente mais governo. Exige, porém, um governo melhor, o governo da lei e não o de pessoas, o desenvolvimento de instituições de direção fortes, o restabelecimento do equilíbrio entre interesses conflitantes, a erradicação da corrupção. Uma globalização ética exige um comércio mais justo e livre, que ajude os povos do mundo a integrarem-se com sucesso numa economia global próspera. Uma globalização ética exige das nossas Igrejas evangélicas, em toda a parte, a resposta ao apelo de praticar a verdade na caridade, enquanto continuamos a obedecer ao grande mandamento de “educar” as nações... Reafirmamos a exortação a modelos melhores de governo global, quer fin
anceiros, quer políticos...

Para garantir o bem comum global certamente é necessária uma ação política, mas novos modelos de governo global devem assegurar uma participação maior, transparência e responsabilidade, e ajudar a reforçar a nação diante do poder das finanças globais. Juntamente com a "Caritas in Veritate" empenhamo-nos a não ser vítimas da globalização, mas protagonistas dela, a trabalhar pela solidariedade global, pela justiça econômica e pelo bem comum, como normas que transcendem e transformam os motivos do lucro econômico e do progresso técnico. Fazemos votos que haja um diálogo sério entre todos os cristãos, e com os outros, a fim de que se façam desses objetivos realidades”.


Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues é arcebispo metropolitano de Sorocaba e escreve nesse espaço aos domingos Diário de Sorocaba

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