Dom Eugenio de Araujo Sales
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
Celebramos a Festa da Independência do nosso país, que envolve uma comemoração cívica, fomentando o amor à Pátria e a solidariedade entre os brasileiros. A ela aderem, com entusiasmo, os que aqui vivem e a possuem no coração. Em torno do Brasil, se unem os homens acima de todas as barreiras e diferenças de raças, classes sociais, religião. Esta data, portanto, lança uma luz forte sobre a angustiosa problemática que nos cerca.
Normalmente costumamos atribuir a causas externas a responsabilidade de nossos males. Sem negar as influências exógenas, busquemos em nós mesmos a raiz dos problemas.
O tema da Independência nos leva a constatar que não existem povos plenamente livres, fora de um contexto internacional. Todos eles, de certo modo, dependem uns dos outros, não excluindo os mais ricos e poderosos.
No emaranhado de interdependências, que constituem o tecido e as articulações da chamada “ordem internacional”, não podemos deixar de descobrir graves deformações responsáveis por uma distribuição desigual de ônus, vantagens e riquezas. Esta conjuntura entre as nações oculta, na realidade, profundas desordens e injustiças que clamam pela urgência de uma nova reformulação.
A grande enfermidade é a polarização hegemônica de potências mundiais, que satelizam as demais na órbita de seus interesses e predomínio.
O nosso Brasil não escapa dessa situação, sendo também sua vítima. Contudo, o País poderá vencer esses aspectos adversos com inteligência, trabalho e respeitabilidade. Certamente, há problemas internos que dificultam a construção do que denominamos Bem comum. Este é o conjunto das circunstâncias concretas de uma nação que permitam a todos os seus membros atingirem níveis de vida compatíveis com a dignidade humana. E não nos esqueçamos que há um desafio bem preciso e com prazos dificilmente prorrogáveis: nossa Pátria, com a máxima urgência, deve poder oferecer a todos os seus filhos condições de uma pobreza honrada, eliminando os bolsões de miséria.
O que ocorre, hoje, entre nós?
Presenciamos quase diariamente um vergonhoso desfile de escândalos. Eles envolvem figuras nacionais, instituições responsáveis pelo bem comum, alicerces da comunidade. O roubo e a fraude são de molde a estarrecerem os mais acostumados com a fraqueza humana: a busca imprudente de obter maiores lucros sem a contrapartida do trabalho a ser feito; a pressão para o aumento de salários com o sacrifício dos mais pobres; os escândalos financeiros, o domínio de minorias amorais que pressionam maiorias inermes. Esses fatos dão a impressão de que vivemos o reino da dissimulação. Eu creio no desejo de muitos em procurar o progresso de nossa Pátria, mas vejo também a força de alguns que tentam esterilizar esforços em prol do bem do Brasil.
Tal quadro cria maior constrangimento porque todas as distorções podem ser removidas com decisões que dependam exclusivamente de nós. Elas se situam no campo dos valores morais. Somente aí podemos resgatar a dignidade na gestão da coisa pública, na administração dos negócios, na implementação de reformas saneadoras. A falta de ética tem um custo incalculável. E já pagamos um preço que vem reduzindo as possibilidades de uma rápida recuperação do País.
Percebe-se uma falta de espírito crítico e discernimento. Alguns acusam fortemente o passado recente e cometem os mesmos erros, clamando contra a corrupção e praticando, sob nomes diferentes, os mesmos atos. Outros denunciam uma ditadura e tentam exercer métodos coercitivos da liberdade, com uma agravante: neles acrescentam a libertinagem. É um triste espetáculo, onde o público assiste o mesmo drama, encenado por diversos atores. Substituíram os personagens, não o enredo da peça teatral.
A Carta Magna é uma esperança. Contudo, um belo texto constitucional não resolve, por si só, os problemas de uma nação. É indispensável que ela recupere o sentido da dignidade, do apreço aos valores morais que são a base de toda a convivência humana.
Infelizmente, as revelações feitas, cada dia, pelos meios de comunicação, nos mostram que não houve ainda, nesse ponto, a mudança desejada. Os desmandos, as formas de corrupção tuteladas pela impunidade, reaparecem, como se os corruptos, os indignos, os imorais não temessem o gládio da justiça.
Eis o panorama nacional. Embora carregado de nuvens é realista, mas não desesperador.
Celebremos, com alegria cívica, nossa Independência, mas que esta data seja oportunidade para firmarmos nossa vontade de superar as dependências que impedem o Brasil de ser aquela grande Pátria almejada por todos. Esse objetivo só será alcançado pelo fortalecimento da tessitura moral, através de um discernimento entre a liberdade que constrói e a libertinagem que destrói a Nação.
Não esqueçamos de pôr em prática os valores religiosos que trazem consigo a seiva da verdadeira vida de um povo. A dimensão espiritual, e somente ela, abre horizontes à esperança, é o alicerce de um grande futuro, com as bênçãos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do nosso Brasil.
Cardeal Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro
Celebramos a Festa da Independência do nosso país, que envolve uma comemoração cívica, fomentando o amor à Pátria e a solidariedade entre os brasileiros. A ela aderem, com entusiasmo, os que aqui vivem e a possuem no coração. Em torno do Brasil, se unem os homens acima de todas as barreiras e diferenças de raças, classes sociais, religião. Esta data, portanto, lança uma luz forte sobre a angustiosa problemática que nos cerca.
Normalmente costumamos atribuir a causas externas a responsabilidade de nossos males. Sem negar as influências exógenas, busquemos em nós mesmos a raiz dos problemas.
O tema da Independência nos leva a constatar que não existem povos plenamente livres, fora de um contexto internacional. Todos eles, de certo modo, dependem uns dos outros, não excluindo os mais ricos e poderosos.
No emaranhado de interdependências, que constituem o tecido e as articulações da chamada “ordem internacional”, não podemos deixar de descobrir graves deformações responsáveis por uma distribuição desigual de ônus, vantagens e riquezas. Esta conjuntura entre as nações oculta, na realidade, profundas desordens e injustiças que clamam pela urgência de uma nova reformulação.
A grande enfermidade é a polarização hegemônica de potências mundiais, que satelizam as demais na órbita de seus interesses e predomínio.
O nosso Brasil não escapa dessa situação, sendo também sua vítima. Contudo, o País poderá vencer esses aspectos adversos com inteligência, trabalho e respeitabilidade. Certamente, há problemas internos que dificultam a construção do que denominamos Bem comum. Este é o conjunto das circunstâncias concretas de uma nação que permitam a todos os seus membros atingirem níveis de vida compatíveis com a dignidade humana. E não nos esqueçamos que há um desafio bem preciso e com prazos dificilmente prorrogáveis: nossa Pátria, com a máxima urgência, deve poder oferecer a todos os seus filhos condições de uma pobreza honrada, eliminando os bolsões de miséria.
O que ocorre, hoje, entre nós?
Presenciamos quase diariamente um vergonhoso desfile de escândalos. Eles envolvem figuras nacionais, instituições responsáveis pelo bem comum, alicerces da comunidade. O roubo e a fraude são de molde a estarrecerem os mais acostumados com a fraqueza humana: a busca imprudente de obter maiores lucros sem a contrapartida do trabalho a ser feito; a pressão para o aumento de salários com o sacrifício dos mais pobres; os escândalos financeiros, o domínio de minorias amorais que pressionam maiorias inermes. Esses fatos dão a impressão de que vivemos o reino da dissimulação. Eu creio no desejo de muitos em procurar o progresso de nossa Pátria, mas vejo também a força de alguns que tentam esterilizar esforços em prol do bem do Brasil.
Tal quadro cria maior constrangimento porque todas as distorções podem ser removidas com decisões que dependam exclusivamente de nós. Elas se situam no campo dos valores morais. Somente aí podemos resgatar a dignidade na gestão da coisa pública, na administração dos negócios, na implementação de reformas saneadoras. A falta de ética tem um custo incalculável. E já pagamos um preço que vem reduzindo as possibilidades de uma rápida recuperação do País.
Percebe-se uma falta de espírito crítico e discernimento. Alguns acusam fortemente o passado recente e cometem os mesmos erros, clamando contra a corrupção e praticando, sob nomes diferentes, os mesmos atos. Outros denunciam uma ditadura e tentam exercer métodos coercitivos da liberdade, com uma agravante: neles acrescentam a libertinagem. É um triste espetáculo, onde o público assiste o mesmo drama, encenado por diversos atores. Substituíram os personagens, não o enredo da peça teatral.
A Carta Magna é uma esperança. Contudo, um belo texto constitucional não resolve, por si só, os problemas de uma nação. É indispensável que ela recupere o sentido da dignidade, do apreço aos valores morais que são a base de toda a convivência humana.
Infelizmente, as revelações feitas, cada dia, pelos meios de comunicação, nos mostram que não houve ainda, nesse ponto, a mudança desejada. Os desmandos, as formas de corrupção tuteladas pela impunidade, reaparecem, como se os corruptos, os indignos, os imorais não temessem o gládio da justiça.
Eis o panorama nacional. Embora carregado de nuvens é realista, mas não desesperador.
Celebremos, com alegria cívica, nossa Independência, mas que esta data seja oportunidade para firmarmos nossa vontade de superar as dependências que impedem o Brasil de ser aquela grande Pátria almejada por todos. Esse objetivo só será alcançado pelo fortalecimento da tessitura moral, através de um discernimento entre a liberdade que constrói e a libertinagem que destrói a Nação.
Não esqueçamos de pôr em prática os valores religiosos que trazem consigo a seiva da verdadeira vida de um povo. A dimensão espiritual, e somente ela, abre horizontes à esperança, é o alicerce de um grande futuro, com as bênçãos de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do nosso Brasil.
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