30 outubro 2011

AS RELIGIÕES MUNDIAIS EM ASSIS

 

29/10/2011 -

Assis, mais uma vez, capital mundial da paz. "Violência nunca mais, guerra nunca mais, terrorismo nunca mais! Em nome de Deus, que toda religião traga sobre a terra justiça e paz, perdão e vida, amor". É com este apelo, o mesmo do seu antecessor João Paulo II, que Bento XVI concluiu nesta quinta-feira a Jornada de Diálogo e Oração pela Paz e pela Justiça, realizada na cidade de São Francisco a 25 anos do encontro desejado pelo Papa Wojtyla no dia 27 de outubro de 1986.
Foram 300 representantes das religiões mundiais que participaram da "peregrinação" e, com eles, a novidade desejada pelo Papa Ratzinger, também figuras significativas do mundo dos "não crentes", partícipes dessa busca de verdade e de paz.
A primeira etapa dessa intensa jornada ocorreu de manhã, na Basílica de Santa Maria dos Anjos. Foi lá que, com articulações diversas, foram reiteradas as razões da paz e do diálogo entre as religiões. Os ortodoxos, com o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, o arcebispo de Canterbury e primaz anglicano, Rowan Williams, o rabino-chefe David Rosen, e depois representantes do Islã, do mundo budista, um líder religioso hindu, das religiões tradicionais africanas, até uma agnóstica, a filósofa e psicanalista "humanista" francesa Julia Kristeva.
A queda do Muro
Foi uma reflexão coletiva concluída por Bento XVI com um balanço sobre esses 25 anos. Que começou com a queda do Muro de Berlim, símbolo da divisão do planeta em dois blocos contrapostos, que decorreu "sem derramamento de sangue" em 1989 – três anos depois da convocação de Assis –, para enfatizar a importância da demanda de liberdade espiritual. Uma demanda, observou, que foi mais forte do que o medo da violência e dos arsenais de armas destrutivas. Não houve o grande conflito, mas quanta discórdia, quanto violência, quanta falta de paz se seguiu.
"Certamente, não se pode dizer que a situação seja caracterizada por liberdade e paz", afirmou. O pontífice destacou dois "novos rostos da violência e da discórdia". Há o "terrorismo", que também encontrou uma motivação religiosa, mas há também "a decadência do homem". Um modelo cultural que leva à adoração do dinheiro e à ideologia "do ter e do poder".
Bento XVI apresentou-o como uma "contrarreligião, em que o homem não conta mais, mas só a vantagem pessoal". Ele denunciou aquele desejo de felicidade que degenera em "uma ganância desenfreada e desumana", que "se manifesta no domínio da droga com as suas diversas formas".
É assim, observou, que a violência "se torna uma coisa normal e ameaça destruir, em algumas partes do mundo, a nossa juventude". Assim "destrói-se a paz", e "o homem destrói a si mesmo". É o efeito daquela "ausência de Deus", que "leva à decadência do homem e do humanismo".
No entanto, também houve na história uma violência exercida pelos cristãos em nome de Deus. O Papa Ratzinger reconheceu isso com "vergonha", quase como um convite aos outros líderes religiosos a fazerem o mesmo. "Mas – pontualiza – foi uma utilização abusiva da fé cristã, em evidente contraste com a sua verdadeira natureza". A religião dos cristãos deve ser continuamente "purificada", para que seja "verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo".
E foi precisamente com esse pedido de "purificação" que Ratzinger explicou o seu convite aos "agnósticos". "Eles buscam a verdade. Estão em busca de Deus. Sofrem com a sua ausência e buscam a verdade e o bem". Ele os definiu como "peregrinos da verdade, peregrinos da paz". Há mais uma razão. Eles estimulam os seguidores das religiões a não considerar Deus "como uma propriedade que pertence a eles, de modo a se sentirem autorizados à violência contra os outros". A dificuldade de muitos a acreditar depende também dos maus crentes, que "deturpam Deus".
Kristeva não deve tê-lo decepcionado. "O encontro das nossas diversidades aqui em Assis – afirmou ela em seu discurso – testemunha que a hipótese da destruição não é a única possível", e "a refundação do humanismo não é nem um dogma providencial, nem um jogo do espírito. É uma aposta".
Oração individual e depois peregrinação até a Praça de São Francisco, em frente ao Sagrado Convento para as delegações dos religiosos. Lá, repetiu-se a solene cerimônia da paz. A declaração conjunta, o acendimento das velas e a troca do sinal da paz.


A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L'Unità, 28-10-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Acredito que a frase que mais se aplique a esse encontro é 'ipocritas'...