Sonhar a Páscoa, viver a Quaresma
“Era melhor teres vindo à mesma hora – disse a raposa
[ao principezinho]. Se vieres, por exemplo, às quatro horas,
às três, eu já começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora,
mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei de estar toda
agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares
a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é,
como hei de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo,
a pô-lo bonito… São precisos rituais.”
Matéria da Nossa Irmã Denize Aparecida Marum Gusmão
(O Pequeno Príncipe, de ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY)
Sabemos a que horas o Príncipe dos príncipes e Senhor do senhores deixa as regiões da morte e vem animar o coração da Humanidade e da Criação com a Festa da sua Páscoa. Este ano, precisamente a 04 de Abril. É por isso que estamos vivendo o “ritual” da Quaresma, que “faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas” – segundo a experiente explicação dada pela raposa ao Principezinho.
Para além do “jejum corporal”
Francisco de Assis, o “Sonhador de uma Páscoa” sem fim para todos, sentiu a necessidade interior de “arranjar o seu coração, de o vestir, de o pôr bonito” por uma série de Quaresmas. Quem ler a Segunda Regra que ele escreveu, ficará um tanto perplexo com as suas palavras:
«E jejuem os irmãos desde a Festa de Todos os Santos até ao Natal do Senhor. Mas a santa Quaresma que começa na Epifania e se estende por quarenta dias contínuos, a qual o Senhor com o seu santo jejum consagrou (Mt 4,2), os que voluntariamente a jejuam, sejam benditos do Senhor, e os que a não quiserem jejuar, não sejam obrigados; mas jejuem a outra Quaresma até à Ressurreição do Senhor. (cap. 4).
As várias “Quaresmas” de S. Francisco de Assis
As quaresmas de SF eram períodos de cerca de 40 dias nos quais se dedicava ao silêncio, ao jejum e à meditação, entregando-se totalmente a Deus. Eram quatro durante o ano:
● a Quaresma da Epifania: que correspondia aos 40 dias em que Cristo orou e jejuou no deserto antes de começar o seu ministério na terra. Começava logo após a festa da Epifania (7 de Janeiro a 15 de Fevereiro);
Epifania do Senhor
● a Quaresma da Paixão e Ressurreição (de Quarta-Feira de Cinzas até à Páscoa): nesse período a meditação de Francisco era tão intensa que os sofrimentos da Paixão de Jesus faziam com que chorasse copiosamente. Unia-se às dores sofridas pelo Salvador.
Nosso Senhor Jesus Cristo
● a Quaresma de São Miguel (ia da Assunção de Nossa Senhora -15 de Agosto até a festa de São Miguel – 29 setembro): aqui demonstrava o seu amor por Maria Santíssima e sua veneração especial pelo Arcanjo Miguel.
São Miguel Arcanjo e São Francisco de Assis
● a Quaresma de São Martinho (começava na Festa de Todos os Santos até ao Natal): para Francisco esse era o período ideal para que ele agradecesse à Santíssima Trindade o dom e a graça da Encarnação do Filho na pessoa de Jesus: a suprema prova de amor de Deus Criador por suas criaturas. Por isso Francisco tinha pelo Natal uma devoção especialíssima.
São Martinho
Fioretti, 7
Uma página dos Fioretti nos conta como Francisco, uma vez, celebrou a Quaresma isolando-se numa ilha deserta do Lago Transimeno, em Perugia, onde passou 40 dias e 40 noites e para onde levou apenas dois pãezinhos, só tendo comido a metade de um.
Ele que não quis viver isolado no claustro, que preferia vagar entre os homens, convivendo com eles, como fez o Cristo, ele, na Quaresma, isolou-se. O alegre “arauto do Rei”, preferiu ficar em silêncio.
Sociável e amigo de todos, a todos deixou:
- deixou os companheiros da Porciúncula,
- deixou o povo a quem pregava,
- deixou até seus doentes que tratava com carinho. Tudo deixou para encontrar-se com Aquele em que estão todos e, sem o qual, ele não poderia fazer nada de eficaz para ninguém.
E lá se foi em sua barquinha, em busca do da riqueza espiritual, que repartiria na volta, com todos. Foi em busca do Pão, que tornava desnecessário os dois pãezinhos que levara. Foi em busca da água viva, para “matar” sua sede.
SÃO FRANCISCO FOI À FONTE.
Foi à fonte para ali encher de água viva seus cântaros esvaziados. E dá-nos vontade de fazer o mesmo.
Onde há Fonte para nós?
O próprio Senhor nos aponta o caminho do manancial – A EUCARISTIA.
Saciaremos nossa sede e ainda voltaremos de cântaros cheios, para distribuí-los com muitos, quando retornamos, já ostentando a alegria franciscana nas Aleluias do Domingo da Ressurreição.
Vivência:
Nesta Quaresma, procuremos:
● ler e meditar a Palavra, como quem saboreia as palavras do Senhor;
● rezar o ‘Ofício da Paixão’, composto por Francisco de Assis para seguir no dia-a-dia os passos de Jesus Cristo.
Tudo isto, para:
● “arranjar o coração”, extirpando todo o vírus, corrupção e violência;
● “vestir o coração” com os sentimentos de serviço e misericórdia que havia em Cristo Jesus;
● e “pô-lo bonito”, com a beleza que nos vem da Páscoa florida do Ressuscitado.
Matéria da Nossa Irmã Denize Aparecida Marum Gusmão
Coordenadora Regional de Formação
http://ofsvilaclementinosp.blogspot.com/
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