19 setembro 2011

Porto Feliz tem Fraternidade



Dupla Festa franciscana
na cidade de Porto Feliz

Por Moacir Beggo
A criação da primeira fraternidade da Ordem Franciscana Secular (OFS) na cidade de Porto Feliz (SP) já seria motivo de grande festa, mas a data de 10 de setembro de 2011 passará para a história como o dia em que foi  erigida a nova fraternidade e 12 irmãos e irmãs assumiram o compromisso definitivo na Ordem de São Francisco de Assis. Na missa de ação de graças, às 16 horas, presidida pelo Ministro Provincial da Imaculada Conceição, Frei Fidêncio Vanboemmel, e concelebrada por Frei Gilberto Piscitelli, o assistente da nova fraternidade, os professandos Ana Cândida Oliveira Diniz, Elvira Aparecida Filetti Manfrin, Joseli Angelieri, Lázaro Melaré, Maria Aparecida Corrêa Barnabé, Maria Aparecida Honora Potel, Maria Helena de F. Oliveira, Oliana Genoveva Angelieri, Sandro Francisco Lopes, Sidnéia Maria de Almeida Melaré, Silvana de Aguiar, Vilma Bazzo Lopes deram o "sim" definitivo à forma de vida de São Francisco e Santa Clara: anunciar Jesus vivo no Evangelho. 
A celebração eucarística aconteceu na bela igreja de São Benedito, que é uma comunidade da Matriz de Nossa Senhora Mãe dos Homens, atendida pelo pároco Pe. Padre Antonio Carlos Fernandes, um dos grandes incentivadores da nova fraternidade (ele não participou da celebração devido a compromissos na matriz). A nova fraternidade, batizada de São Maximiliano Kolbe, terá no total 16 professos, já que quatro professaram na Fraternidade de Santa Maria dos Anjos, em Sorocaba. A Igreja de São Benedito, onde se reúne a fraternidade, é administrada pela Irmandade de São Benedito, fundada em 1898.
Tanto o rito da profissão como o da ereção canônica teve a presença da Ministra da OFS Regional Sudeste III, Denise Aparecida Marum Gusmão, e várias fraternidades do Estado de São Paulo, especialmente das cidades vizinhas, estiveram presentes na celebração.
Em sua homilia, antes do rito da profissão, Frei Fidêncio ressaltou como a forma de vida escolhida por Francisco e Clara de Assis atraía leigos e leigas. "Francisco não teve dúvidas: acolheu-os com muita alegria como acolheu os seus frades e depois Santa Clara de Assis. E lá pelo ano de 1214 e 1215, Frei Francisco escreveu uma carta a esses fiéis penitentes, com cinco itens apenas, onde ele diz o que é ser franciscano numa vida secular ou como é viver essa espiritualidade franciscana no mundo", explicou o Ministro Provincial.
Segundo Frei Fidêncio, o leigo e a leiga devem amar a Deus e ao próximo, como ensina o primeiro Mandamento de Deus: "Porque São Francisco conhecia muito bem o Santo Evangelho. Vivia e orientava sua vida a partir do Evangelho". Depois, Francisco diz que o leigo e a leiga que querem viver a forma franciscana de vida devem se opor às tendências pecaminosas dentro da natureza humana que existe dentro de nós. "Se nós queremos amar a Deus, amar o próximo, temos também que olhar para dentro de nós mesmos, porque somos criaturas frágeis". Em terceiro lugar, o franciscano secular deve recorrer à vida sacramental: buscar o sacramento da reconciliação, mas, sobretudo, a Eucaristia. Em quarto lugar, ele diz que nós devemos viver em conformidade com a conversão.
"Então, a vida penitencial ou a vida franciscana é exatamente produzir bons frutos. Se a gente ama, se reconhece frágil, se buscamos a vida sacramental, o que pode nascer de dentro de nós? Frutos dignos da penitência. E o que são esses frutos? São a misericórdia, a caridade, o sorriso, o anúncio alegre da boa nova de Jesus Cristo, como fez São Francisco e Santa Clara. Como hoje nos mostra o Evangelho (Mt 18,21-35), um dos mais belos frutos da penitência: o fruto do perdão", acrescentou o Ministro Provincial.
"Queridos irmãos, queridas irmãs, nesta celebração festiva, nesta cidade de Porto Feliz - muito  significativo o nome -, que a aqui seja realmente um porto de felicidade, onde vocês, franciscanos e franciscanas, possam irradiar jovialidade e alegria com esses ideais de São Francisco de Assis. Que possam viver exatamente aquilo que professa a Regra: anunciar esse Jesus vivo no Evangelho, no rosto dos irmãos e das irmãs da fraternidade e de toda a comunidade. Anunciar e viver esse Jesus vivo presente na sua Igreja e anunciar, sobretudo, e proclamar esse Jesus vivo presente na Eucaristia. É isso que diz o artigo quinto da Regra", completou, pedindo as bênçãos de São Francisco, Santa Clara, Santa Isabel e São Maximiliano Kolbe à nova fraternidade.
Logo após a homilia, os doze professandos foram chamados um a um até o altar para o rito da profissão. Na sequência, os neoprofessos receberam os distintivos oficiais da Ordem Franciscana Secular: o Tau, sinal externo de penitência, e o crucifixo de São Damião, sinal da consagração batismal renovada.
No final da celebração, foi feita a cerimônia da instituição canônica da Fraternidade. A Ministra Regional fez a leitura do Capítulo 22 da Regra da OFS e leu a carta do arcebispo metropolitano de Sorocaba, Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, concordando plenamente com cumprimento da ereção canônica. O Ministro Provincial, Frei Fidêncio Vanboemmel, leu o decreto de criação da nova fraternidade.
Cumpridos todos os ritos canônicos, a celebração continuou com o reingresso na igreja dos novos professos, que, em procissão, trouxeram o estandarte da nova fraternidade. Eles vestiam agora uma camiseta branca com um símbolo escrito “São Maximiliano Kolbe”. O Regional Sudeste III também presenteou a nova fraternidade com uma bela estampa de São Maximiliano Kolbe.
Realização de um sonho
Segundo a Ministra Regional, Denise Aparecida Marum Gusmão, a criação da nova fraternidade foi a realização de um sonho que começou há muito tempo, quando um grupo de admiradores de São Francisco e Santa Clara criou o Movimento de Assis. "Era um grupo de jovens, entusiasmado e animado, liderado pela Mara (Maria Aparecida Faustino), e pelo Eduardo (Aparecido Martins de Mello), que já pertenciam à Fraternidade de Santa Maria dos Anjos de Sorocaba. Eles tinham um sonho de ter franciscanos nesta cidade, já que não havia a presença da Primeira Ordem aqui. Com entusiasmo, cativaram outras pessoas e ficaram conhecidos na cidade por muitos eventos que fizeram. Mas como diz o Frei Vitório Mazzuco, não basta conhecer e se encantar, tem que se apaixonar", recordou Denise.
Segundo a Ministra, com o tempo o entusiasmo já não era o mesmo. "O apaixonar-se leva ao comprometimento e aqueles que se apaixonaram decidiram continuar... Decidiram que queriam construir uma fraternidade, comprometida com o Reino, a exemplo de Francisco e Clara. E assim o sonho se tornou uma realidade. Hoje, vocês, são uma fraternidade: a de São Maximiliano Kolbe. Procuro sempre dizer que cada fraternidade é uma pequena parte da família gerada por Francisco e Clara de Assis. Por isso, ela se tornou também a nossa pequena Porciúncula. Que esta fraternidade seja para vocês o que a Porciúncula foi para Francisco: fonte de inspiração, berço da espiritualidade, lugar de fraternidade e ponto de partida para a missão, pois será uma fraternidade protegida por São Maximiliano Kolbe, o grande discípulo missionário do nosso tempo. Vivam, pois, irmãos, com alegria o projeto que estão assumindo. E sejam muito felizes!", desejou a Ministra.
Os pioneiros

Como disse a Ministra, Maria Faustino, ou simplesmente Mara como é conhecida, e Eduardo, foram os pioneiros deste projeto franciscano em Porto Feliz. Nos últimos cinco anos, eles, como professos da Fraternidade Santa Maria dos Anjos, tiveram como missão dar a formação aos novos irmãos e irmãs. Para Eduardo, Mara é um "espelho" nesta caminhada até a fundação da fraternidade. "Também não é para menos. Ela foi minha catequista. Ou seja, me formou para a fé. Ela é alegre e abraça a causa com entusiasmo. Tem que ser assim mesmo. Se a gente está feliz, essa alegria contagia as pessoas e a caminhada não se torna pesada", garante Eduardo. Segundo ele, esse projeto em Porto Feliz começou em  julho de 1998.


Eduardo se emocionou durante a celebração quando falou dos irmãos que já partiram. "Ganhamos a nossa Porciúncula, um pequeno quartinho embaixo da Casa Paroquial de no máximo 4 metros quadrados. Ali construímos esse grupo. Depois o grupo cresceu, amadureceu, mudou. Por três anos nos reunimos todas as segundas. Fizemos novenas, trezenas, horas santas, celebramos o Natal na rua, fizemos Folia de Reis, espalhamos bênçãos de Deus, do jeito que sabemos, na alegria, na simplicidade. Servimos a comunidade, servimos café, iniciamos a bênção do pão de Santo Antônio, a Coroa das sete dores rezando por todas as mães que perderam seus filhos. Celebramos a paz, fomos às reuniões da Câmara Municipal. Criamos laços de fraternidade e de amizade. Fomos imensamente abençoados por Deus. Mas, em nossa caminhada, tivemos que ver partir pessoas que amávamos muito. Irmãos cheios de fé, de otimismo, de garra que hoje formam nossa Fraternidade no céu. Pessoas que, como São Maximiliano, agarraram com as duas mãos a coroa da dor e, com certeza, por merecimento, alcançaram a coroa da pureza de coração", recordou.
Mara, como sempre fez desde o início do Movimento de Assis, não parou um segundo durante os preparativos e a celebração. Preocupada com que tudo saísse perfeito. Não era para menos. Ali, naquele momento estava uma longa caminhada e a realização de um sonho. Mas, segundo ela, com uma "sensação de medo". "Até agora eu participava de uma fraternidade que já fez história. Agora, eu estou me comprometendo com a Ordem. A gente tem a responsabilidade de dar continuidade a este momento feliz. Mas também é só confiar em Deus e aqui Ele é visível e tem um carinho especial para com este povo", completou Mara (LEIA O DEPOIMENTO DE MARA FAUSTINO).
José Henrique Dalmásio também professou na fraternidade de Sorocaba, mas torcia muito para a fundação da fraternidade de Porto Feliz. "Seríamos os primeiros franciscanos na cidade. Agora, vejo a realização deste sonho. Foi uma feliz espera". Já Silvana Aguiar, uma das novas professas, decidiu ser franciscana secular por causa de um convite da Mara, que formou um grupo de pessoas para ajudar num encontro da OFS no Seminário Franciscano de Agudos. "Eu sempre gostei de São Francisco e isso ficou muito claro quando participei do Movimento de Assis. Mas no encontro de Agudos vi como era uma fraternidade e disse: 'é isso que quero'", contou.   
O filme "Irmão Sol e Irmã Lua" foi o instrumento de Deus para provocar Ana Cândido Oliveira Diniz. "Mas não fui eu quem assistiu ao filme inicialmente. Foi meu irmão que viu e se emocionou muito. Me falou dele com entusiasmo e me levou a assistir. Aquele filme despertou em mim esse querer viver a vida de Francisco e Clara. Eu queria muito isso. Quando os frades conventuais estiveram na nossa Matriz e falaram muito sobre o projeto franciscano de vida secular, não tive dúvida. Procurei a Mara e disse: 'é isso que eu quero para mim'. É isso que tenho vivido neste últimos sete anos e hoje foi uma bênção", completou.
 A Ordem Franciscana do Brasil está vivendo um grande momento. Será realizado em São Paulo o XIII Capítulo Geral da OFS, de 22 a 29 de outubro, no Centro Pastoral Santa Fé.

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