11 agosto 2009

Anjos e demônios 10



* A Igreja e Galileu, muitas falsidades: Os mitos sobre Galileu são tantos que somente uns poucos se dão o trabalho de consultar os fatos históricos para saber o que em realidade aconteceu. Brown explora esta ignorância ao máximo. Quando afirma na página 41 que os "dados do Galileu estavam fora de discussão”, não chega nem perto da verdade. Por exemplo, sabemos que as marés se explicam pelas forças gravitacionais da lua. Mas a fixação de Galileu sobre a terra girando ao redor do sol não lhe permitiu compreender isto, ele pensava que as marés deviam compreender-se a partir do fato de que a terra girava ao redor do sol. E o que é mais importante, o que colocou a Galileu em problemas não foram suas idéias mas a sua arrogância: fez afirmações que não podia sustentar cientificamente.

Se Galileu foi castigado por sustentar que a terra gira ao redor do sol, então por que Copérnico não foi castigado? Afinal de contas, Copérnico teve esta idéia antes mesmo que Galileu chegasse a ela, e assim como Galileu, Copérnico era católico. A diferença está em que Copérnico foi um cientista honesto: estava contente afirmando suas idéias a modo de hipótese. Galileu repudiou fazer o mesmo, inclusive quando não podia as provar.

Se a Igreja Católica quis tirar o Galileu do mapa, então como se explica que fora gabado por seu trabalho em Roma em 1611? Por que o Papa Paulo V o acolheu? Por que se fez amigo do futuro Papa, Urbano VIII? Francamente, Galileu nunca se meteu em problemas antes de começar a insistir em que o sistema copernicano era positivamente certo. Quando esteve de acordo tratando isto como uma hipótese ou como uma proposição matemática, não sofreu nenhuma sanção.

Em 1624, o Papa Urbano VIII deu a Galileu medalhas e outros presentes, e lhe rogou que seguisse realizando seu trabalho. De acordo com Woods, “Urbano VIII lhe disse ao astrônomo que a Igreja nunca tinha declarado que o sistema do Copérnico era herético, e que a Igreja nunca faria isso". Isto, é obvio, não é o que Brown quer que acreditemos. Oito anos depois, Galileu escreveu em seu "Dialogo sobre os principais sistemas do mundo", e o fez a pedido do Papa. Mas esta vez Galileu assinalou que a teoria copernicana era empiricamente certa. Além disso, apresentou-se como teólogo, não somente como matemático, e esteve de acordo em fazê-lo. A Igreja não estava contente, e se sentiu marcada por ele. De igual modo, a comunidade científica não estava impressionada. Sua arrogância era terrível para muitos fora da Igreja assim como dentro dela.

É fácil para nós dizer que a Igreja reagiu exageradamente com Galileu. Isto é certo. Mas é também importante notar que ele nunca foi torturado e não passou um só dia na prisão. Foi confinado ao arresto domiciliário em uma modesta casa durante 9 anos. Inclusive passou um tempo na casa do Arcebispo de Siena. Não é exatamente a experiência tipo gulag (campos de trabalhos forçosos russos no tempo do Stalin aonde morreram milhões de pessoas) que nos têm feito acreditar. Seria interessante saber como Brown explicaria o fato que o primeiro líder da Pontifícia Academia para as Ciências não foi outro que seu "mártir" favorito Galileu Galilei!

Se a Igreja Católica era tão anti-ciência, por que o Papa Bento XIV outorgou o imprimatur (permissão eclesiástica oficial para a impressão de uma obra católica) à primeira edição dos trabalhos completos do Galileu? Assim o fez em 1741. E se necessitamos melhores provas para demonstrar que o abrasivo do Galileu teve algo que ver com a resposta da Igreja, deve considerar-se que cientistas como o P. Roger Boscovich seguiram explorando as idéias copernicanas enquanto Galileu foi encontrado "veementemente suspeito de heresia". Também deve notar-se que aos católicos nunca lhes proibiu ler a Galileu, inclusive os livros científicos de todo tipo circularam livremente durante e depois da censura ao Galileu.


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