31 julho 2010

A Visão de um Seminarista!










Renato de Moura Petrocco






O presente texto procura, de forma pessoal e espontânea, apresentar a simples visão de um seminarista diante das notícias de abusos de padres em relação a menores de idade e jovens!



Recentemente vemos em jornais impressos e televisivos notícias sobre casos de pedofilia envolvendo presbíteros da Igreja Católica Apostólica Romana. Notícias e afirmações que carregam verdades e posições errôneas acerca da vivência do sacerdócio e da posição oficial da Igreja, incluindo a figura do Papa Bento XVI.



Em algumas matérias buscou-se na formação dos seminaristas as raízes para as patologias presentes em presbíteros e, que a questão do celibato teria que ser revista para a solução de tais problemas.



Gostaria de elencar algumas coisas também essenciais na vida de um presbítero que acredito serem fundamentais na formação dos futuros padres.



É muito comum sermos indagados a respeito do fundamento da nossa opção vocacional.

Quem nos chamou?
Como decidimos ser padre?
Como conseguir viver sem ter uma esposa e uma família?
Como abdicar a algo tão especial na vida de um homem,
como é a relação sexual?

Tenho a convicção de que nossa vocação brota de algo muito mais profundo do que tais questões.



Nossa preocupação não é com nossas vidas ou com nossas necessidades sexuais.

Sei que isso, na contemporaneidade, é algo estranho: Como alguém não pensa em si, em um mundo marcado pelo individualismo, marcado pela busca de saciar seus desejos e anseios pessoais? É isso mesmo! Não é em nossos desejos e anseios que pensamos. Quando percebemos o chamado de Deus, que acontece na nossa vida, na nossa história – portanto é um chamado histórico e real – queremos algo muito mais profundo do que nossos sonhos pessoais.



Quem já fez uma experiência de fé sabe do que estou falando. Sabe que não é algo irracional, mas que ultrapassa a nossa razão: é transcendente! Não vai entender esse contexto quem nunca fez uma experiência de fé. Uma experiência que também não é irreal, mas que parte da realidade de nossas vidas e a transcende. É fazer a experiência de Deus como Abraão, Moisés, os profetas, os judeus, os cristãos e todas as religiões. Uma experiência que é imanente e transcendente. Nossa vocação brota dessa experiência de fé no Deus presente na história. Experiência pessoal que nos interpela e nos impulsiona para a vivência comunitária e para o serviço dos nossos irmãos e irmãs. No serviço aos mais fracos e pequenos percebemos a presença de Deus que nos chama para o serviço total a Ele e a esses. Daí cabe a nós uma resposta ao chamado, cabe a nós respondermos com fidelidade e amor ao Projeto de Deus.



Como todos os seres humanos somos dotados de fraquezas e de problemas. Na sociedade em que vivemos, podemos sofrer distúrbios psicológicos e tantas outras coisas, como qualquer homem, já que todos nós somos feitos do mesmo “barro”. Somos seres humanos buscando superar novas dificuldades e limitações, em busca de uma santidade, mas não a perda da nossa humanidade.



O mundo contemporâneo parece clamar por Super-Homens e, muitos acreditam que esses que são “diferentes” por serem homens do sagrado, devem ocupar esse posto. Sentimos muito se não o somos, se somos iguais a todos os seres humanos: limitados e deficientes.

Entristece e machucam as denúncias e os casos de pedofilia, como tantos outros tipos de contratestemunho dados por homens e mulheres da Igreja, mas também machucam tais atos cometidos por pais de família, médicos, professores e profissionais das mais diversas áreas e pessoas das mais diversas instituições. Puna-se legalmente todas essas pessoas, mas não podemos generalizar, afirmando que todos os padres são pedófilos e que isso vem da formação seminarística, do mesmo modo que seria errado afirmar que estudantes de medicina aprendem isso em seus cursos.



Afirmamos sim que recebemos um chamado de Deus para o serviço ao seu povo na Igreja. Pedimos, como o Papa Bento XVI, perdão às vítimas dessas atrocidades. Sabemos que as marcas deixadas por abusos de irmãos nossos muitas vezes nunca serão cicatrizadas. Mas acreditamos que o amor de Deus fará com que sejamos diferentes e, nós que estamos no processo de formação, podemos fazer as coisas diferentes. Continuo animado em minha vocação para ser servidor e amante do povo, sendo o primeiro que serve, que se faz servidor de um povo que já sofre com tantas injustiças.



Acredito que o Deus de toda a esperança e defensor da vida, faz brotar a cada dia vocações verdadeiras para o serviço presbiteral na Igreja, como verdadeiros ministros e portadores da Boa Notícia, para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Como seguidores de Cristo, anunciando um reino de Paz e Justiça, não como utopia, mas como urgente e possível.
 

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